Soldadinho, o santo alfredense?

Placa Comemorativa
Placa Comemorativa

Pouco se sabe sobre o Soldado que está sepultado na comunidade que hoje se chama Soldadinho. Na placa sobre o túmulo está escrito:
Soldadinho
Soldadinho, sua história começa depois que foi criada a primeira colônia militar de Santa Catarina, uma das primeiras do Brasil
Naquela época foi aberta a estrada para fazer comercialização de uma região para a outra, que era na vila de Lages à Santa Tereza.
Em 1859 passavam por aqui, uma tropa de soldados que voltava da vila de Lages, com os produtos da comercialização.
Naquela época, o frio era tanto que ninguém aguentava, e naquele momento um dos soldados sentiu-se cansado, parou, sentou no chão e acendeu uma fogueira para se aquecer. Como o frio era muito, apagou o fogo o soldado morreu de frio. Minutos passaram e outros soldados sentiram sua falta e voltaram para ver o que tinha acontecido. Quando chegaram encontraram o soldado morto… E o enterraram aqui e desde então este lugar é conhecido como:
Soldadinho…

Esta placa fornece algumas informações básicas verídicas segundo a tradição oral e outras inverídicas do ponto de vista histórico e lógico. Mas foi importante a sua colocação pois faltam informações que nos possam dar a verdadeira história do Soldadinho e por quê ele é considerado Santo.

Vamos aos fatos:
A picada aberta de Lages a Desterro possibilitou um grande progresso na região. O movimento constante de tropeiros e militares, subindo e descendo a serra obrigou o Império a constituir uma Colônia Militar onde hoje é Catuíra, para dar apoio e segurança aos que iam e vinham.
Como uma colônia Militar, Santa Thereza abrigava tropas que se deslocavam também de uma a outra região. O Duque de Caxias encaminhou para a colônia aqueles soldados da Guerra do Paraguai que haviam recebido baixa. As mulheres que os acompanhavam receberam autorização para se fixarem em Santa Thereza recebendo inclusive ajuda financeira para a viagem por ordem de Caxias.

Soldado da Infantaria Brasileira de Linha de Frente do século XIX desenho pelo desenhista e correspondente de guerra Melton Prior (1845-1910). Colorido digitalmente por Mauro Demarchi
Ilustração do equipamento de campo da Infantaria Brasileira de Linha de Frente do século XIX reproduzida a 7 de outubro de 1893 no jornal inglês The Illustrated London News, página 444, em artigo sobre a Revolta da Armada (1893-1864) sucedida nos então “Estados Unidos do Brazil”. A figura apresenta à direita um soldado em formação munido de seu rifle com baioneta; à esquerda e de cima para baixo, um quepe, um soldado a utilizá-lo e um capacete de cortiça no estilo “casque colonial” do Segundo Império Francês. A ilustração foi executada em 1891 pelo desenhista e correspondente de guerra Melton Prior (1845-1910).

Segundo a tradição oral transmitida na “Alfredo Wagner em Revista – Jubileu de Prata 1961/1986” organizada e elaborada,  em 1986, pelo Dr. Thiago de Souza soldados derrotados na Revolução Federalista (que separou Santa Catarina do restante do Brasil por um curto período) fugiram da cidade de Desterro para o interior, muitos buscando a Serra em direção a Lages. “Depois de vários dias de marcha já não suportavam seu próprio peso, a marcha era lenta, quando vinham pela altura do hoje local chamado Demoras, já com a tarde caindo, um deles, mais velho, mancando por causa de um pé machucado, com fome e frio foi ficando para trás. No início seus companheiros nem notaram sua ausência. Mais a frente encontraram uma porteira, era sinal de que estavam perto de alguma casa, andaram mais um pouco encontrando a residência do Sr. Nicolau Kalbusch que os recebeu dando-lhes alimentação e abrigo. Nesse meio tempo deram pela falta do companheiro, dois deles, talvez mais íntimos resolveram ir procura-lo, arrumaram tochas de taquaras e com o dono da casa foram a procura do amigo, foi em vão, a noite era muito escura e fria. Infelizmente tinham que abandoná-lo.
“Na manhã seguinte, já refeitos e bem alimentados saíram novamente a procura do colega, não levaram muito tempo encontraram-no morto, congelado, encostado a uma árvore. (…) Seus companheiros o enterraram ali mesmo, colocaram em sua sepultura uma tosca cruz de madeira para marcar o local e foram embora, nada mais podiam fazer.”
A tropa, segundo este relato, seguia em direção a Colônia Militar Santa Thereza, porém o mau tempo os obrigou a parar na fazenda do Sr. Nikolaus Kalbusch.

A cruz de madeira serviu de sinal para indicar onde havia sido enterrado o soldadinho, como ficou conhecido. Orações e promessas já ocorriam por quem passava pelo local. Um dia, o proprietário resolveu derrubar a mata no entorno e por fogo para preparar o campo para plantio. Tudo queimou… menos a Cruz indicativa do local onde o Soldadinho fora sepultado. O fato aumentou a devoção já existente. Pela década de 1960 foi reformado o túmulo e construída a cerca em volta. Nada consta que tenha sido feito alguma exumação.
Segundo romeiros que frequentavam constantemente a localidade para rezar e pedir graças, um padre disse que não precisavam mais ir lá pois o corpo do soldadinho fora levado por seus familiares. As romarias diminuíram após a intervenção do sacerdote, mas as pessoas continuaram a visitar o local, orando e pedindo graças.
Um apicultor, de religião luterana, me contou que fez um trato com o Soldadinho: para cada colmeia que ele pegasse, o apicultor acenderia uma vela junto ao tumulo do Soldado. Em um ano, seu apiário que tinha apenas uma dezena de colmeias, passou a ter centenas.
Outra senhora me contou recentemente, ela apesar de católica é casada com luterano e pouco frequenta a igreja, mas sempre que pode vai ao Soldadinho rezar, tendo inclusive pedido pela saúde de pessoa amiga acometida por câncer e em situação delicada.
Os casos de graças alcançadas aumentam a proporção que conversamos com as pessoas.
Mas o que diz a Igreja Católica sobre isso? Um dos párocos da cidade há alguns anos, tentou dissuadir os fiéis desta devoção. O pároco atual, Pe. Augustinho Kunen, não incentiva, mas disse em conversa com este jornalista: “Nós rezamos no Credo: Creio na Comunhão dos Santos. Mas para alguém ser declarado santo pela Igreja é preciso conhecer sua vida e realizar um grande e demorado processo”.

Chegará o Soldadinho a ser declarado Santo? O processo é muito demorado e difícil e no caso pessoal dele, mais ainda. Nada se sabe de sua vida. Portanto, relatos, escritos, nada nos aponta para uma vida de prática das virtudes heroicas mas como explicar as graças e milagres recebidos por tanta gente?
A devoção ao Soldadinho continua. Isso demonstra que lá está enterrado alguém que na sua humildade e mesmo desconhecido, é amado por Deus que atende a quem a Ele recorre através do Soldadinho.
Através deste artigo, simples, como foi a vida deste homem, prestamos uma homenagem e invocamos a Graça de Deus a todos que o lerem. Que o Soldadinho, se for vontade divina, ilumine os caminhos das pesquisas que iniciamos, para chegarmos ao conhecimento completo de sua vida e do exemplo que nos dá!

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